segunda-feira, 4 de julho de 2011

A linguagem


Na era vitoriana, era proibido fazer menção às calças na presença de uma senhorita. Hoje em dia, não fica bem dizer coisas perante opinião pública:


o capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;

o imperialismo se chama globalização;
As vítimas do imperalismo se chamam países em vias de desenvolvimento, que é como chamar meninos de anões;
o oportunismo se chama pragmatismo;
a traição se chama realismo;
os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos;

a expulsão dos meninos pobres do sistema educativo se chama deserção escolar;
o direito do patrão de demitir o trabalhador sem indenização nem explicação se chama flexibilização do mercado de trabalho;
a linguagem oficial reconhece os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse maioria;

em lugar de ditadura, diz-se processo;
as torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;

quando os ladrões são ricos e de boa família, não são ladrões, são cleptomaníacos;

O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome enriquecimento ilícito;
chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;
em vez de cego, diz-se deficiente visual;
um negro é um homem de cor;
onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou Aids;
mal súbito significa infarto;
tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas, e os civis, que nada tem a ver com o peixe e sempre pagam o pato, são danos colaterais;

Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: "Não gosto da palavra bomba. Não são bombas, são artefatos que explodem";

Chamam-se Conviver, alguns bandos assassinos na Colômbia, que agem sob proteção militar;

Dignidade era o nome de um dos campos de concentração chilena e Liberdade o maior presídio da ditadura uruguaia;
Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, matou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, que rezavam em uma igreja do povoado de Acteal, em Chiapas.




FIMU~

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