quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A mamãe desprezada


 As obras de arte da África negra, frutos da criação coletiva, obras de ninguém, obras de todos, raramente são exibidas em pé de igualdade com as obras dos artistas que se consideram dignos desse nome. Esses butins do saque colonial podem ser encontrados, por exceção, em alguns museus de arte da Europa e Estados Unidos, e também em algumas coleções privadas, mas seu espaço natural é no museu de antropologia. Reduzida à categoria de artezanato ou expressão folclórica, a arte africana só consegue ser digna de atenção alinhada entre os costumes de povos exóticos.

  O mundo chamado ocidental, acostumado a atuar como credor do resto do mundo, não tem maior interesse em reconhecer suas próprias dívidas. No entanto, qualquer um que tenha olhos para olhar e admirar, poderia muito bem se perguntar: - Que seria da arte do século XX sem a contribuição da arte negra? Sem a mamãe africana, que lhes deu de mamar, teriam existido as pinturas e as esculturas mais famosas de nosso tempo?

 Numa obra publicada no museu de Arte Moderna de Nova York, Willian Rubin e outros estudiosos fizeram um revelador cotejo de imagens. Página e página, documentam a dívida da arte que chamamos arte com a arte dos povos que chamados primitivos, que é fonte de inspiração e de plágio.

Os principais protagonistas da pintura e da escultura contemporâneas foram alimentados pela arte africana e alguns a copiaram sem menos dizer um obrigado. O gênio mais alto da arte do século, Pablo Picasso, sempre trabalhou rodeado de máscaras e tapetes africanos, e essa influência aparece em muitas maravilhas que ele deixou.

A obra que deu origem ao cubismo, Les demoiselles d'Avinyó, contém um dos numerosos exemplos. O rosto mais cérebre do quadro, o que mais agride a simetria tradicional, é a reprodução exata de uma máscara do Congo exposta no museu Real da África Central, Bélgica, que representa um rosto deformado pela sífilis.

Algumas cabeças de Amedeo Modigliani são irmãs gêmeas de máscaras do Mali e da Nigéria. As guarnições de signos dos tapetes tradiconais do Mali serviram de modelos para os grafismos de Paul Klee.
Algumas das talhas estilizadas do Congo e do Quênia, feitas muito antes do nascimento de Alberto Giacometti, poderiam passar por obras de Alberto Giacometti em qualquer museu do mundo e ninguém se daria conta.
Poder-se-ia fazer um joguinho de diferenças - e seria muito difícil identificá-los - entre o óleo de Max Ernst, Cabeça de Homem, e a escultura de madeira da Costa do Marfim, Cabeça de um Cavaleiro, que pertence a uma coleção particular em Nova York.


A Luz da Lua Numa Rajada de Vento, de Alexander Calder, traz um rosto que é clone de uma máscara luba do Congo, pertencente ao museu de Seattle.





Um Muito Obrigado à Mamãe Africana.


FIMU~

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