Oro!
A imaginação a serviço da ciência.
Imaginem viver em um lugar em que a renda fosse igualmente dividida entre as pessoas que trabalham: nenhum mendigo, ninguém passando fome, sensação de segurança. Essas são algumas diferenças mais marcantes do que seria o Brasil, se tivéssemos uma distribuição perfeita.
É importante dizer que ninguém seria rico. Pelo atual padrão de renda no país, se toda riqueza produzida em um mês fosse dividida pela população economicamente ativa, dariam 600 reais para cada trabalhador. Para aumentar esse salário, só se o Brasil, como um todo, produzisse mais riqueza. Estamos bem longe dessa realidade. Na verdade, poucos países no mundo estão mais longe dessa realidade que nós. Segundo dados de 2002 do Banco Mundial, só três países africanos (Suazilândia, República Centro-Africana e Serra Leoa) têm distribuição de renda mais desigual que a nossa. Para fazer essa classificação, usa-se o índice Gini, fruto de um cálculo complicadíssimo e que varia de zero a 1. Quanto mais próximo de zero, mais justa e igualitária é a distribuição de renda. O índice da Suécia, um dos países onde a renda é mais bem distribuída, é 0,24. O nosso é um escandaloso 0,57.
O melhor jeito de diminuir a desigualdade é mexer na tributação. Quem tem mais, paga mais imposto (ao contrário do que acontece hoje) e o Estado pode transferir a verba para quem precisa, oferecendo saúde e educação, entre outros investimentos.
Se a igualdade ocorresse de um dia para o outro, o consumo de produtos básicos, como alimentos, subiria bastante. Em dezembro do ano passado o Brasil tinha por volta de 50 milhões de pessoas vivendo com menos de um salário mínimo, segundo o IBGE. Agora, imagine toda essa gente comprando. Não só arroz com feijão, mas iogurtes, chocolates, bolos. Nos primeiros meses, os preços iriam às alturas e teria muita gente se estapeando no supermercado. O risco de inflação crônica seria enorme. O mercado precisaria de um tempo para se ajustar. Aos poucos, haveria um aumento na produção agrícola, gerando maior oferta de empregos no campo e uma produção mais voltada ao mercado interno. Quem optasse por trabalhar na lavoura teria mais chances de ser bem-sucedido, diminuindo o inchaço nas grandes cidades.
Por outro lado, o consumo ostensivo diminuiria, uma vez que os ricos já não seriam tão ricos assim. Cairia a oferta de iates, carros de luxo. Talvez as fábricas desses bens teriam de se adaptar e produzir geladeiras, fogões e eletrodomésticos. Provavelmente seria possível passar férias em mansões na praia, já que o "precinho" do aluguel desses palácios, despencaria.
Com o tempo, o ensino seria mais acessível. Teríamos mais cientistas e maior produção de conhecimento, fator indispensável para o crescimento. Os subempregos como o mercado formal, os flanelinhas e os camelôs desapareceriam. Quem não iria gostar muito dessa história seriam as empresas de plano de saúde, previdência e segurança privada e blindagem de carros - enfim, todas as áreas condenadas à falência quando se trata de um Estado que oferece oportunidades iguais.
Por aí, pode-se imaginar a guerra de interesses para chegarmos à igualdade. Enquanto isso, continuamos disputando o primeiro lugar dos desiguais, junto com os países africanos. Nesse ponto, o Haiti (PASME), com índice Gini igual a 0,40, é melhor do que aqui.
FIMU~

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