terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pensamentos e reflexões

Há cinco séculos, a gente e a terra das Américas foram incorporadas ao mercado mundial na condição de coisas.
Uns poucos conquistadores, os consquistadores conquistados, foram capazes de intuir a pluraridade americana, e nela, e por ela, viveram. Mas a conquista, empresa cega e cegante como toda a invasão imperial, só podia reconhecer os indígenas e a natureza como objetos de exploração ou como obstáculos. A diversidade cultural foi considerada como ignorância e castigada como heresia, em nome do deus único, da língua única e da verdade única, enquanto a natureza, besta feroz, era domada e obrigada a transformar-se em dinheiro. A comunhão dos indígenas com a terra constituía a certeza essencial de todas as culturas americanas e este pecado da idolatria mereceu a pena do açoite, da forca e do fogo.
    Já não se fala em submeter a natureza: agora os verdugos preferem dizer que é preciso protegê-la. Num e noutro caso, antes e agora, a natureza está fora de nós: a civilização que confunde os relógios com o tempo, também confunde a natureza com os cartões postais. Mas a vitalidade do mundo, que zomba de qualquer classificação e está além de qualquer explicação, nunca fica quieta.

A natureza se realiza em movimento e também nós, seus filhos, que somos o que somos e ao mesmo tempo somos o que fazemos para mudar o que somos. Como dizia Paulo Freire, o educador que morreu aprendendo: "Somos andando".






"A verdade está na viagem, não no porto. Não há mais verdade que a busca da verdade. Estamos condenados ao crime? Bem sabemos que os bichos humanos andamos muito dedicados a devorar o próximo e a devastar o planeta, mas também sabemos que não estaríamos aqui se nossos remotos avós do paleolítico não tivessem sabido adaptar-se à natureza, da qual faziam parte, e não tivessem sido capazes de compartilhar o que colhiam e caçavam.
    Viva onde viva, viva como viva, viva quando viva, cada pessoa contém muitas pessoas possíveis e é o sistema de poder, que nada tem de eterno, que a cada dia convida para entrar em cena os nossos habitantes mais safados, enquanto impede que os outros cresçam e os proíbe de aparecer. Embora estejamos malfeitos, ainda não estamos terminados; e é a aventura de mudar e de mudarmos que faz com que valha a pena esta piscadela que somos na história do universo."

Eduardo Galeano




FIMU~

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